São Paulo, sexta-feira, 19 de junho de 2009

 
 

Organizações pedem ao governo veto para o milho transgênico

Grupos apontam problemas de contaminação de lavouras convencionais

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Oitenta e seis organizações civis protocolaram ontem no Ministério da Casa Civil uma carta aberta para a ministra Dilma Rousseff na qual pedem a suspensão imediata de todas as autorizações para plantio comercial de milho OGM (geneticamente modificado). As entidades pedem ainda a paralisação de todos os processos de licenciamento de variedades de milho transgênico em curso na CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).
A ministra Dilma é presidente do CNBS (Conselho Nacional de Biossegurança), colegiado formado por 11 ministros e a instância máxima em biossegurança no país, única com poder de revogar decisões da CTNBio.
Na carta, organizações sociais, ambientalistas, de pequenos produtores e de consumidores alegam que as suspeitas de contaminação de produções de milho convencional estão sendo comprovadas. O Brasil colhe neste momento a primeira safra de milho transgênico.
Segundo anúncio dos próprios agricultores e de cooperativas, a maior parte dessa produção não vem sendo segregada do produto convencional.
As organizações pedem que o uso do milho OGM seja suspenso enquanto não houver garantias de coexistência.
Representantes da sociedade civil cobram do governo federal o cumprimento de promessas de "convivência pacífica" entre plantios convencionais, orgânicos, agroecológicos e transgênicos feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da reunião COP 8, em Curitiba.
Eles dizem que Lula apoiou a liberação do plantio comercial de sementes OGM sob a condição de haver garantia de coexistência de lavouras convencionais e transgênicas.
A reportagem da Folha percorreu o interior do Estado do Paraná no mês de março e constatou lavouras de milho convencional contaminadas com variedade transgênica. A reportagem ouviu de vários agentes da cadeia de produção de grãos no Paraná que não há estruturas de colheita, transporte e armazenagem suficientes para separar o milho transgênico do convencional.
A falta de controle no início da cadeia de produção de alimentos compromete a rotulagem dos produtos vendidos aos consumidores. A própria CTNBio reconhece que a rotulagem exigida em lei não é cumprida em toda a extensão. A reportagem apurou que produtos processados não estão sendo rotulados não pela falta de matéria-prima transgênica usada na fabricação, mas pela impossibilidade de detecção de traços de material geneticamente modificado nos testes do Ministério da Justiça.

 
 

outro lado

CTNBio nega dificuldades com lavouras

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da CTNBio, Walter Colli, disse ontem que não existem ainda evidências sobre a contaminação de milho convencional por pólen de plantas transgênicas.
Em entrevista à Folha, ele sustentou que o espaçamento mínimo de cem metros entre lavouras de milho OGM e não OGM é suficiente para assegurar a coexistência das lavouras. "O risco de contaminação é menor do que 0,9%", afirmou Colli.
Ele disse que a fiscalização sobre o cumprimento das regras de plantio é atribuição do Ministério da Agricultura, não da CTNBio. Afirmou não acreditar numa revogação das licenças pelo Conselho de Biossegurança.
A Monsanto, detentora de tecnologia OGM para milho, diz que as regras da comissão para o plantio asseguram a convivência entre as variedades.